segunda-feira, 6 de agosto de 2007

uma palavra pra chamar de sua

Solidão foi uma das primeiras palavras cujo significado ela aprendeu. No começo, elas se encaravam, e se ignoravam, mas ignorar não era suficiente para não perceber. Depois, perceber começou a ser pouco, e elas começaram um jogo de dominação. Uma tentava desesperadamente dominar a outra, se mostrar mais forte. Em muitos momentos, a outra venceu. Muitos, mesmo. Talvez por isso, ela tenha encontrado uma maneira de resolver seu problema: começou a gostar da brincadeira. Não gostava sempre, mas o suficiente para seguir em frente. E assim seguiu, mas por vezes tentando passar a perna naquela que a seguia. Todas as tentativas, porém, foram mal sucedidas. De vez em quando pareciam dar certo, mas não, logo se mostravam fracassadas. Sempre fracassadas. Um dia, então, ela teve que encarar o fato. Não doeu, não a fez chorar, já que até aquele momento ela já havia sofrido tanto, e chorado tanto, que nem conseguia mais. Ela percebeu, enfim, que nunca estaria sozinha. A outra sempre a faria companhia. Em muitos momentos, ela seria, de fato, a sua única companhia. Hoje ela ainda tenta, de vez em quando, esquecer tudo isso. Ela tenta ser como as outras. Ela tenta bastante, e queria conseguir. Mas nunca consegue. Ela não consegue romper esses seus laços invisíveis de amizade, laços tão fortes que a monopolizam. Ela sabe que não há problemas com ela. Sim, ela sabe bem precisamente onde está o problema. Ela sabe, bem no fundo, que não quer deixar de ser assim. Não quer deixar de ser ela mesma. Ainda dói um pouco pensar que, pra ser diferente, ela teria que ser diferente. Ela sabe que desse jeito não a aceitam. Mas ela não quer, não quer. Ela só queria achar alguém assim como ela. Mas ela nem espera mais, sabe que não vai conseguir.